Eu estou sentado de joelhos dobrados na quina do quarto. Eu não podia fazer mais nada a não ser ficar completamente parado como qualquer pessoa impotente naquela situação. A garota que está dividindo o quarto comigo chorava horrores de tanto desespero. Eu a conheço. O nome dela é Dina e ela era rica assim como eu e nós dois estudamos na mesma escola particular.
Decido me aproximar dela na esperança de consolá-la. Ou ao menos tentar.
– Nem pense em se aproximar de mim. – disse ela, com lágrimas nos olhos. – Eu não quero ser tocada por ninguém, muito menos por você!
– Eu também não quero isso, você tem que entender! – tentei me justificar.
– Entender o quê?! – exclamou ela. – Que eu estou prestes a perder a virgindade com um desconhecido em uma celebração que mais se parece com um ritual satânico? Justo no dia que era pra ser o mais importante da minha vida que é a celebração dos meus quinze anos?
Eu decidi me manter de boca fechada para que ela desabafasse. Afinal de contas, ela tinha razão em tudo. Assim como ela, eu também estou completando quinze anos nessa mesma noite e assim como ela, eu não queria que o meu aniversário fosse celebrado dessa forma.
De repente, Dina se aproxima de mim, me abraçando em total desespero.
– Eu estou com tanto medo, Rafael… – chorou ela.
Eu retribuo o abraço dela para tentar consolá-la. Ficamos assim por praticamente alguns poucos minutos.
De repente nossos pais abrem a porta e adentram o quarto. Já estava mais do que na hora de cobrarmos uma atitude deles.
– É muito atrevimento de vocês aparecerem aqui depois de tudo o que estão fazendo. – eu comecei a falar. – Tire-nos daqui agora mesmo!
– Isso não vai ser mais possível, meu filho. – retrucou meu pai com uma expressão bastante séria. – A celebração já está praticamente pronta. Falta apenas vocês dois para que se inicie o rito de passagem.
– Eu me recuso a participar disso! – exclamou Dina. – Eu prefiro a morte!
– Apenas escute, minha filha – a mãe de Dina falou. – É melhor vocês dois se resignarem com essa realidade. Ou é isso ou sofrer consequências bastante severas pela desobediência de vocês.
– O que pode ser pior do que se envolver em um ritual? – Eu questionei na hora.
– Muitas coisas, meu filho. – disse minha mãe. – Nossos deuses são generosos com todos nós, mas também sabem como atormentar aqueles que vão contra a vontade deles. Não se lembra do que aconteceu com o seu tio? Ele teve uma morte lenta e agoniante por simplesmente querer sair da nossa religião.
Infelizmente eu teria que concordar com a minha mãe. A pouco tempo atrás, meu tio foi encontrado morto com o corpo totalmente encoberto de sangue por causa das mutilações que sofreu por todo o seu corpo. Apesar da polícia não ter conseguido descobrir quem foi o assassino, ouve relatos macabros de que o ataque que ele sofreu foi, no mínimo, provocado por alguém com um comportamento selvagem e até mesmo bestial, como se fosse um animal de outro mundo.
Dina se pôs a chorar novamente por conta da falta de opções que tinha. Mesmo assim, nossos pais se mantiveram frios quanto a tudo isso.
– Antes de irmos, precisamos que vocês façam uma coisa. – disse meu pai, ao mesmo tempo em que segurava um pequeno jarro de suco em suas mãos.
O jarro era pequeno e tinha uma cor escura-escarlate. No mesmo instante, eu não podia evitar uma sensação de asco em pensar que aquilo podia ser sangue.
– Isso não é sangue, meu filho. – disse minha mãe, percebendo a minha cara de nojo. –é apenas um suco afrodisíaco que vai ajudar vocês a sentirem prazer durante o ato.
– Eu não vou tomar isso! – exclamou Dina.
– Você tem que fazer isso, minha filha. – disse a mãe de Dina. –Vai ter que fazer isso pois não há mais opção.
Dina se conteve. Ela ficou de cabeça baixa e no fim, ela foi a primeira a beber aquele líquido. Sem muita escolha, eu fui logo em seguida.
***
A primeira parte da celebração começou. Obviamente, os convidados estavam apenas esperando nós dois para que o rito finalmente desse início.
Eu e Dina começamos a andar de mãos dadas e vestindo túnicas brancas em uma clara representação de nossa inocência ou o que sobrou dela.
Claramente, os olhares maliciosos dos mais velhos nos incomodava bastante. Era como se todos eles estivessem esperando uma chance para tocar em nossos corpos e abusar de nós em todo o sentido da palavra.
Não demorou muito para chegarmos em uma cama que estava no centro do círculo. Uma cama grande de casal bem bonita, por sinal.
Eu e Dina nos olhamos. Ela tinha a mesma fisionomia triste e desanimada desde o começo disso tudo e mesmo assim, preferimos nos manter calados e submissos.
Logo em seguida, olhamos ao nosso redor e percebemos um detalhe ainda mais perturbador. Os primeiros lugares do círculo eram ocupados por pessoas muito jovens. Jovens esses que possuíam a mesma faixa etária que Dina e eu. Menores de idade assim como nós dois e todos eles, sem exceção, possuíam a mesma faceta depressiva que nós dois.
– Queridos irmãos.
Uma voz anciã nos pega de surpresa e percebemos a presença de um homem vestindo o que parecia ser uma roupa sacerdotal de índole pagã. Ele também estava no centro do círculo, bem perto da cama e de nós dois.
– Hoje, com muita alegria, estamos aqui reunidos para celebrar o rito de passagem desses dois jovens que estão prestes a deixarem de ser crianças para se tornarem adultos e bom servidores de nossos amados deuses.
Aquela anunciação me deixou ainda mais amedrontado, assim como Dina. Que tipo de deuses ele estava falando?
– Como sempre acontece em toda e qualquer ocasião, os nossos amados deuses esperam por uma oportunidade de demonstrar seus poderes diante dessa fútil humanidade, mesmo que seja por uma fração de segundos. Eles esperam ansiosamente nas trevas do Hades até o momento em que nós, presentes nesse mundo terreno, ofereçamos algum tipo de tributo para todos eles. E essa noite é o momento mais oportuno de todos, em que dois jovens se livrarão de seus lados mais inocentes para se tornarem realmente adultos.
De repente, o sacerdote faz o gesto da famigerada mão chifrada em ambas as mãos.
– Os nossos amados deuses estão conosco nesse exato momento, esperando ansiosamente para a parte mais importante da celebração. Digam amém, meus irmãos!
– AMÉM!!! – bradou todos os presentes em uníssono.
Naquela altura, era como se os nossos corpos já estivessem cientes do que fazer logo em seguida. Já estávamos cansados de perder mais tempo. Eu e Dina tiramos as nossas vestes e ficamos completamente nus diante de todos.
Logo em seguida, Dina é a primeira a se deitar na cama e eu vou logo em seguida.
Mantivemos nossos olhares um no outro por alguns poucos minutos e nesses poucos minutos era como se eu pudesse ter sido capaz de ler os seus pensamentos através dessa simples troca de olhares.
Ela queria que isso acabasse logo de uma vez. Eu não tive escolha a não acatar o seu pedido.
A penetração é inevitável. No começo, eu fui bastante devagar para não machucá-la. Nós também começamos a nos beijar e a nos acariciarmos como uma forma de aliviar toda aquela tensão.
No entanto, passado alguns minutos de puro silêncio, Dina me surpreende. Ela começa a assumir o comando da relação íntima e a responder com movimentos cada vez mais intenso. Ela começa a se deixar levar pelo prazer de uma maneira que eu nem sequer a reconhecia mais.
Mesmo que por uma fração de segundos, eu posso perceber que seus olhos brilhavam em uma coloração escarlate demoníaco, quase como se fosse um ser sobrenatural.
De repente, eu começo a ouvir um canto na boca dos presentes da celebração. Demora apenas alguns minutos para perceber que esse mesmo cântico é de linguagem enoquiana.
No entanto, nem eu e nem Dina fomos capazes de parar com o ato sexual, pois já estávamos consumidos pelo fogo da luxúria.
Conforme o cântico prosseguia mais o nosso desejo aumentava, nos fazendo transformar em meros animais cujo único propósito era de apenas copular.
Eu e Dina também percebemos que conforme o coito prosseguia, os que estam presentes nesse ritual também começam a se excitar, ao ponto de alguns deles, principalmente os mais jovens, também começassem a ter relações sexuais, dando início a uma orgia infernal.
As vozes daquele cântico maldito já estava bastante alto, conforme Dina e eu alcançávamos o clímax.
E quando esse clímax chegou de forma intensa ao ponto de nós dois gritamos de puro prazer, aquele cântico enoquiano suavizou o seu ritmo.
Tanto Dina quanto eu estávamos completamente esgotados, mas ao mesmo tempo bastante leves. Foi só eu apenas abrir os meus olhos para entender realmente o porquê.
Todos nós estávamos levitando literalmente, deixando o solo do gramado e subindo as maiores alturas na escuridão da noite.
Todos os presentes estavam extasiado com aquela manifestaçãodemoníaca, enquanto eu e Dina ficamos apavorados e incapazes de fazer qualquer coisa. Então é essa a graça que eles tanto falam?
Dina me abraça fortemente, completamente assustada com os eventos ocorrentes. Eu retribuo o abraço dela e nós fechamos os olhos no choro, enquanto a escuridão cercava a nós todos.