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Becos da Memória, de Conceição Evaristo

“Todos sabiam que a favela não era o paraíso, mas ninguém queria sair. Ali perto estava o trabalho, a sobrevivência de todos. O que faríamos em lugares tão distantes para onde estávamos obrigados a ir? Havia famílias que moravam ali havia anos, meio século até, ou mais.”

Becos da memória, de Conceição Evaristo, foi uma obra que me surpreendeu bastante. De início, eu não dei muita bola para esse livro. Porém, conforme os dias iam se passando, comecei a ter um desejo de lê-lo. Além disso, eu precisava honrar o fato de um amigo meu ter me dado essa história para ler. Então, nada mais justo do que honrar essa meta de uma vez.

O que me surpreendeu a respeito desse mesmo livro é justamente a forma de escrita que a autora em questão usa com a qual nunca vi nada igual. Conceição Evaristo é uma mulher de origem mineira de origem bastante humilde. Nasceu na favela de Pindura Saia, na região Centro-Sul de Belo Horizonte em 1946, mas que mesmo assim, teve na literatura o seu maior consolo em meio as adversidades e também a sua maior arma pessoal na luta contra o racismo e a desigualdade. 

Becos da memória, uma de suas obras mais consagradas, representa muito bem a sua forma de escrita, sua narrativa e também a sua atuação em sua luta, pois trata-se justamente da volta de seus tempos de infância, contada sobre uma perspectiva mais poética.

Apesar da narrativa que lembra bastante a poesia, Becos da memória não deixa de ser um retrato duro (até mesmo cruel) da vida pobre das periferias, principalmente entre as décadas de 60 a 70. E infelizmente, muito dessa realidade perdura nos dias atuais, especialmente em favelas do Rio de Janeiro, São Paulo e até mesmo Minas Gerais. 

Em Becos da memória, Conceição Evaristo “assume” o papel dela mesma quando criança e começa a relembrar os momentos mais importante de sua infância e começo de sua adolescência e as transforma em momentos poéticos e sublimes, porém, não menos duros e dolorosos. Ela escreve sobre os tempos em que morava em uma favela em processo de desfavelamento. Por causa disso, a atmosfera de um realismo cruel é presente de forma constante na narrativa, pois Maria-Nova (a própria Conceicão Evaristo) vivência momentos duros e ouve falar de histórias de escravidão e racismo contadas através dos mais velhos.

Entretanto, não é apenas Maria-Nova que assume o protagonismo dessa crônica realista. O livro também conta as várias desventuras de vários outros personagens como o Tio Totó, Maria-Velha, Negro Alírio e Vó Rita. Cada um desses personagens tem suas histórias envolventes de luta e persistência em meio as horas mais sombrias de suas vidas em um lugar que nem sempre é justo com os mais humildes.

Por causa da sua narrativa e do retrato quase cru da realidade da probreza brasileira, Becos da Memória é um dos livros que consagrou, ainda que de forma tardia, Conceição Evaristo no marco da literatura brasileira. Recentemente, a escritora foi eleita como imortal na Academia Mineira de Letras, ocupando a cadeira de número 40. Essa conquista, sem dúvidas, motivará ainda mais aqueles que estão curiosos em saber mais da autora a lerem as suas obras ou pra quem quiser mergulhar de cabeça no principais problemas que rondam o nosso país.

Este post tem um comentário

  1. Ana

    Muito bom, Lincoln! Vou colocar na lista de leituras.

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