No momento, você está visualizando Anjo mau

Anjo mau

Rosana


Dou uma longa olhada na frente do meu espelho. Atualmente, eu tenho 14 anos de idade, mas o meu corpo já estava mostrando os seus sinais de crescimento precoce. Meu quadris estavam ficando quase bem desenvolvidos do que os quadris das minhas outras colegas. Os meus seios, apesar de ainda estarem relativamente pequenos para o meu gosto, estavam totalmente belos. Dou uma volta para contemplar a minha parte traseira e sinto uma vontade louca de rir sozinha. Era apenas uma questão de tempo para que eu pudesse caçoar a vontade das minhas colegas subdesenvolvidas e estúpidas. Com o corpo que eu tinha, eu me sentia capaz até mesmo de seduzir um coroa ricaço se pudesse. No entanto, eu logo percebo a minha condição financeira atual e começo a ficar desanimada a respeito desse detalhe.
– Rosana! – gritou a minha mãe da cozinha. – O almoço já está na mesa! Venha logo se não vai esfriar!
Dou um longo suspiro antes de recuperar o que restou do meu ânimo.

***


Eu estava odiando aquela vida de bosta. Não importava o que os meus pais faziam por mim, eu não conseguia mais suportar aquela maldita condição de pobreza que eu estava passando. Eu odiava os meus pais, porém, eu era sempre obrigada a colocar uma máscara de menina feliz, brincalhona e paparicada por todos a minha volta. Atualmente, estou realizando o meu almoço com o máximo de pressa possível. Eu também odiava aquela comida de pobre.
– Vai devagar aí, garota. – disse minha mãe. – É capaz de você se engasgar com tanta comida na sua garganta.
– É verdade, Rosana. – disse Valdirene, uma amiga de tantos anos de minha mãe. – Teve um sobrinho meu que quase passou mal tamanha era a pressa que ele estava comendo.
Eu paro de colocar comida na minha boca por alguns instantes. A minha vontade era de mandar aquela cretina para a puta que a pariu. Porém, eu contenho a minha raiva o máximo que posso, para evitar causar uma briga desnecessária.
– Desculpa, tia. – fingi arrependimento. – É que estou com um pouco de pressa.
– É mesmo? Vai fazer o quê? – perguntou minha mãe.
– Eu quero andar por aí. Esvaziar um pouco a minha cabeça. – respondi.
– Eu vou te deixar ir com uma condição. Que você leve o seu irmão Davi junto com você. Já está mais do que na hora dele sair daquele quarto a aproveitar o sol.
Eu era obrigada a engolir todo o meu rancor. Eu também odiava o meu irmão mais novo. Era uma típica criança de 9 anos cuja vida se resumia em se manter calado, estudar e jogar joguinho de celular. Uma vida sem graça que me recuso a ter na minha vida.
– Davi! Vem! – exclamou a minha mãe. – Você vai passear com a sua irmã!

***


Enquanto andava sem rumo no centro de Contagem junto com o meu irmão, minha mente estava a mil pensando em inúmeras possibilidades que, no fundo, achava impossíveis para mim. Como eu desejava nascer em uma família diferente. Completamente próspera, rica e sem nenhuma necessidade de preocupação em meio a esse mar de lama que é a minha cidade. Porém, infelizmente, eu era obrigada constantemente a conviver com a minha condição de pobretona enquanto vejo as garotas mais populares da minha escola se dando bem com caras bonitões e que exalavam segurança financeira.
– Tô com sede, Rosana. – disse Davi de forma tímida.
Nós dois paramos de andar por alguns segundos. Eu já não estava aguentando mais. Minha maior vontade naquele momento era fazer alguma coisa para machucar o meu irmão ou coisa pior. Eu até estaria me contentando em apenas dar a ele uma série de bofetadas e pontapés contra ele, além de chamá-lo de vários nomes feios.
No entanto, eu respirei fundo para conter a minha raiva. Por sorte, nossa mãe deixou uma quantia boa de dinheiro para mim, caso a gente quisesse dar um susto no estômago.
– Está bem, Davi. – disse eu. – Tem uma lanchonete perto daqui. Quem sabe a gente aproveita pra comprar também um salgadinho para nós?
– Boa ideia, mana.

***


Davi e eu estávamos dentro de uma lanchonete até de aparência boa. A comida também não deixava muito a desejar apesar de ter um preço um pouco salgado para o nosso gosto. Particularmente, eu não estava com fome, então decidi ir para o lado de fora enquanto esperava o chato do meu irmão terminar o seu lanche.
De repente, percebo uma limusine vindo na direção da mesma lanchonete. Eu imediatamente me levanto. Aquilo era algo inédito na minha rua.
O veículo parou bem perto de mim. Quando o chofer saiu do carro, eu me afasto um pouco como sinal de respeito. O homem de porte grande e carrancudo foi na porta traseira da limusine e abriu-a.
O que veio logo a seguir foi algo difícil de descrever. Uma emoção nova surgiu dentro do meu corpo.
Um garoto jovem, um pouco mais velho do que eu, saiu do carro. Ele emanava uma beleza completamente estonteante. Um rosto belo e livre de maculas e um corpo bem formado. Formado demais para o seu próprio bem.
Ele veio em minha direção e pegou a minha mão para beija-la como um autêntico cavalheiro.
– Como está o seu dia hoje, bambina? – perguntou ele com uma fala bem mansa e sedutora.
– Está sendo ótimo. – respondi sem nenhuma timidez.
– Permita-me que eu me apresente. O meu nome é Francesco.
– O meu é Rosana. – eu me apresentei também.
– Como você pode ver, eu sou de uma família bem abastada que tem as suas origens na Itália.
– Dá pra perceber. – faço o meu papel mais dissimulado possível para evitar qualquer atitude desesperada. Eu precisava despertar o interesse naquele rapaz. – Que mal me pergunte, mas o que veio fazer por essas bandas?
– Eu estou com uma fome daquelas e não podia evitar em parar em uma lanchonete mais próxima para encher a minha barriga apesar de eu não ser muito chegado a um lugar assim.
– É melhor você tomar cuidado. – Tento puxar o assunto o máximo que eu posso. – Você chegar desse jeito com limusine e tudo é um prato cheio para qualquer assaltante.
– Não se preocupe, minha querida – rebateu Francesco ainda tranquilo. – Minha família conhece toda a região de Minas com a palma da mão. Conhecemos quais locais são perigosos ou não. Além disso, o meu motorista Benedetto é também meu guarda-costas. E acredite, com ele por perto, qualquer ladrãozinho metido a machão defeca nas calças só de olhar para ele.
– Isso é que eu chamo de moral. – elogiei. – Mas me fala a verdade. Você não está aqui para um simples lanche, não é?
Por alguns segundos, Francesco ficou em silêncio e começou a se aproximar de mim.
– Quer saber mesmo a verdade? – perguntou ele.
– Sim. – afirmei.
– Eu estou procurando alguém. Uma musa cuja beleza exuberante seja capaz de parar um mundo inteiro para que eu possa chamar de minha. Nesse exato momento, você é a única que está alcançando as minhas expectativas.
Naquele momento, eu não podia acreditar na sorte grande que eu tinha acabado de tirar. Eu estava chamando a atenção de um verdadeiro descendente de magnatas completamente ricos. E se tudo desse certo, eu podia até mesmo me casar com ele no futuro e se tornar uma herdeira de toda a sua fortuna. Seria um ticket só se ida para o glamour que eu tanto ansiava.
– Já terminei, Rosana.
Aquele bosta do Davi atrapalhou aquele momento precioso. Como eu ansiava mata-lo naquele momento.
– Vamo pra casa, mana – disse ele. – eu quero jogar videogame.
– É melhor você ir com o seu irmão. – disse Francesco.
– Tem razão. – eu estava custando para conter minha raiva. – Foi bom enquanto durou.
– Não seja por isso, bambina. – disse ele, enquanto se aproximava em meu ouvido. – Se quiser mais, eu estarei te esperando nesse mesmo lugar, dentro da minha limusine.
Eu não me contive e fui em seu ouvido.
– Poder ter certeza que aparecerei.
Fui embora com o meu irmão com um sorriso intenso no rosto. Aquela era a minha chance de ouro de estar lado a lado com um príncipe encantado de verdade.
– O que houve entre vocês dois lá atrás? – perguntou Davi.
– Absolutamente nada. – respondi com o sorriso mais cínico que eu podia esboçar.

***


O frio da madrugada fazia os pelos do meu corpo se eriçarem, mas aquilo tudo estava valendo a pena para ir de encontro ao meu príncipe. Olho para o meu relógio com bastante atenção. Era quase uma hora da manhã. Eu estava gostando daquela adrenalina toda de violar as regras. Era uma sensação praticamente inédita para mim. E tão intoxicante. Para chegar até esse momento, fui obrigada, como sempre, a assumir a pose de garota certinha, disfarce esse que já estava me enchendo a paciência. Eu desejava liberar todo o meu ódio a todos aqueles que não me amavam.
Eu cheguei ao local indicado e como fora prometido, aquela mesma limusine estava lá. Com toda a delicadeza que me restava, eu me aproximei e bati a porta traseira. O meu príncipe abriu a minha porta e eu entrei.
Francesco e eu começamos a nos beijar intensamente. Ele era tão delicado quando se trata de amor. Um autêntico cavalheiro. Finalmente eu estava sentindo algo além de um simples prazerzinho corriqueiro. Era algo realmente intenso, que valia realmente a pena sentir.
Quando nós dois terminamos de nós amar, estávamos completamente abraçados. A única coisa que eu desejava era que aquele momento não terminasse nunca.
– Me responde uma coisa com toda a sinceridade – disse Francesco. – Você desejaria viver comigo?
– Sim. – afirmei. – No fundo do meu coração.
– O que você está disposta a fazer para isso?
– Eu sou capaz de fazer qualquer coisa.
– Qualquer coisa mesmo?
– Absolutamente.
Notei um sorriso malicioso em sua face e logo suspeitei do que tratava aquilo tudo. Porém, no momento em que ele me deu uma adaga virgem para eu pegar, eu percebi que aquilo na verdade era um teste. Um teste que envolvia muito sangue. Então era isso. Eu estaria prestes a realizar as minhas maiores fantasias.

***


Francesco e eu entramos na minha casa no mais sombrio dos segredos. Nenhum de nós queria causar alarde. Pelo menos não até que o momento oportuno chegasse. Eu ainda estava com a adaga virgem afiada em minhas mãos, enquanto Francesco também estava munido de uma.
– O meu irmão está no quarto dele. – avisei. – Está no segundo andar. Bem perto do meu com uma porta azul. É melhor ir rápido, pois minha mãe tem um sono leve.
– Pode deixar comigo. – afirmou.
Nós dois subimos com o mínimo de barulho possível. Francesco reconheceu o quarto de Davi com muita facilidade. Ele entrou e fechou a porta bem devagar.
Vou a passos largos para o quarto dos meu pais em silêncio. Para a minha sorte, minha mãe estava deitada sozinha na cama de casal. Meu pai sempre fazia hora extra no trabalho dele, chegando sempre de madrugada em casa. Me aproximo o mais rápido que posso para perto dela.
Depois de uma breve olhada, sem nenhuma hesitação, finco a adaga virgem bem no pescoço de minha mãe. No momento em que ela abriu os olhos, eu tapo a boca dela com a minha mão e afundo ainda mais a lâmina em sua pele. Inevitavelmente, o sangue escorre pela cama, enchendo o tecido com um vibrante vermelho escarlate.
– Após todos esses anos fingindo ser outra pessoa, mãe – disse eu, com toda a tranquilidade. – Eu finalmente tenho a chance não apenas de conhecer o meu príncipe encantado, como também a chance de libertar o meu verdadeiro eu.
Apesar da relativa penumbra, eu podia ver o brilho dos olhos da minha mãe se esvair lentamente até que não sobrasse nenhum pingo de vida.
Foi então que, como num passe de mágica, todo o meu ódio que havia sido acumulado em mim se floresceu de uma só vez, me fazendo tirar a lâmina de minha já falecida mãe e desferir em seu cadáver múltiplas facadas. Uma mais brutal que a outra. Uma. Duas. Três. Quatro. Cinco. Seis. Sete. Oito. Eu consegui desferir oito brutais facadas até sentir Francesco conseguir me afastar daquele corpo.
– Você perdeu a cabeça, menina?! – exclamou ele. – Dá uma olhada na sua roupa!
Eu logo percebi a minha roupa toda suja de sangue. Com a maior pressa que eu podia ter, eu logo me troquei e joguei a roupa suja na lata do lixo. Foi nesse momento que percebi a porta de baixo se abrindo. Sem sombra de dúvidas era o meu pai. Francesco e eu descemos a escada com bastante rapidez e partimos pra cima dele.
– O que está acontecendo aqui?! – exclamou ele, claramente confuso.
– Cala a boca, seu assassino de merda! – bradei com toda a minha voz. – Assassino!!! Assassino de minha mãe!!!
– Assassino!!! – gritou o meu príncipe.
Tanto eu quanto Francesco gritávamos a plenos pulmões. Por incrível que parecia, não demorou muito tempo para que os outros vizinhos viessem até a minha casa para puxar o meu pai para fora. Eu tive a oportunidade de vislumbrar o que todos eles estavam fazendo com ele. Todos, sem exceção, lincharam o meu pai de todas as maneiras possíveis. Eles pegaram qualquer coisa que estivesse por perto, desde garrafas até pedaços de pau.
– Acho melhor sairmos daqui! Já! – disse Francesco seriamente.
Temendo que alguém decidisse fazer perguntas a minha pessoa, eu segui os conselhos de meu príncipe. Começamos a correr o mais depressa possível até alcançarmos a limusine. O motorista também não queria perder tempo e deu logo a partida para irmos embora.
– E o meu irmão? – perguntei. – Você o matou?
– Matei sim. – afirmou Francesco. – Ele nem sequer resistiu.
– Meu herói. – agradeci.
Nós dois nós beijamos enquanto o veículo rumava a minha futura habitação e a minha nova vida.

***


A casa que Francesco tinha era bastante luxuosa, o que se podia esperar de qualquer casa nobre na região da Pampulha.
A mansão era algo belo, quase rivalizando com as utopias que eu costumava ter quando ainda era criança, época essa que eu estava totalmente fascinada com o mundo pomposo das novelas da rede Globo e os filmes da Disney.
– Venha comigo. – murmurou Francesco em meu ouvido. – Venha comigo para o meu quarto.
Foi dentro do quarto dele que ele não perdeu mais tempo. Francesco e eu tiramos as nossas roupas e fizemos amor da forma mais bela possível. Ele estava sendo delicado comigo e eu com ele. Era uma sonho que estava sendo realizado. Eu finalmente seria uma menina realmente bem sucedida na vida.

***


Quando o nosso ato de amor terminou, já eram três horas da madrugada. Nós dois estávamos transpirando de amor.
De repente, Francesco se levantou como se nada tivesse acontecido.
– Aonde você vai? – perguntei curiosa.
– Não vou a lugar algum. – respondeu ele de forma fria. – Eu só quero ter certeza de ter alguém presente para o segundo round.
– Segundo round? Como assim?
– Laerte! – exclamou Francesco. – Pode vir!
De repente, um homem um pouco acima do peso e duas vezes mais velho que eu surge no quarto de Francesco. Ele estava sem camisa e com um olhar perturbador.
– Que palhaçada é essa? – perguntei já apavorada.
– A palhaçada é você, sua rapariga. Achou mesmo que eu sou idiota ao ponto de incluir você na minha família? Uma pobretona interesseira como você merece comer o pão que o diabo amassou.
Meu Deus! Ele já sabia de antemão os meu real interesse. Francesco logo fecha a porta do quarto dele com a chave, me deixando sozinha com aquela rolha de poço, que por sua vez me agarrou em um abraço apertado e bruto, sem nenhum pingo de delicadeza.
– Você é uma menina muito sórdida, sabia disso? – murmurou Laerte em meu ouvido. – Você matou a sua própria família para realizar os seus sonhos melados de adolescente. Realmente, a morte é muito pouco para você. Como meu irmão disse, você merece comer o pão que o diabo amassou.
Ele começou a desabotoar a calça. Enquanto a mim, só restava fechar os meu olhos e me preparar para o pior.

***


Após Laerte e Francesco acabarem comigo, os dois irmãos usaram de toda a influência do clã deles para me prenderem em um prostíbulo de reputação questionável. Desde aquele dia, eu sou usada de todas as maneiras possíveis por inúmeros homens sujos e velhos decrépitos, bem diferente do príncipe encantado que eu idealizava de forma constante. Conforme o tempo se passava, os sonhos que eu possuía de felizes para sempre deixou de ter importância para mim. Ao invés disso, comecei a ter gosto com a vida de garota de programa. Depois do que eu fiz com a minha família, não havia mais ninguém para assumir a minha tutela, o que facilitou muito para mim na minha subida ao topo no prostíbulo que eu trabalhava. Praticamente me tornei a princesa da luxúria, capaz de realizar os desejos mais profundos de todo homem em troca de uma quantia generosa de dinheiro. Agora mando e desmando nessa pocilga e me livro de todas aquelas que ameaçam o meu reino, seja por chantagem ou por sangue.
Agora estou em frente ao espelho, me preparando para o meu próximo trabalho. É melhor que o meu atual cliente me ame o bastante, pois eu não estou disposta a ser simplesmente usada por qualquer um.

Deixe um comentário