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A rebelião

Desta vez, a Paulinha passou de todos os limites. Graças a ela, o caos absoluto se formou por toda a escola. Todos os alunos, sem exceção, começaram a deixar um verdadeiro rastro de destruição sem precedentes, com direito a cadeiras jogadas por todos os lados, todas as janelas quebradas e até mesmo canos furados e eletricidade cortada a força.

Isso tudo aconteceu porque o Gustavo, o namorado de Paulinha, tinha acabado de ser expulso da escola por posse de cocaína. Eu vi com os meus próprios olhos a diretora cuspindo fogo em cima dele, que por sua vez ainda estava sob o efeito da droga que ele tanto gostava de consumir. Gustavo também já estava de saco cheio da diretora e fez de tudo para ir pra cima dela fazer sabe-se lá o quê contra a mesma. No fim, Gustavo teve que ser arrastado até o camburão da polícia para evitar que ele machucasse alguém.

A diretora até temia que aquele evento causaria uma revolta gigantesca nos outros alunos. Afinal de contas, nenhum deles, com exceção de mim, ia com a cara dela por causa de seu rigor. Bastou esperarmos até a hora do intervalo para estarmos terrivelmente certo. De repente, Paulinha começou a surtar, derramando o almoço da merenda e indo pra cima da merendeira sem dó e nem piedade. Os outros alunos também começaram a entrar na brincadeira e o clima de caos enfim tomou forma, algo digno de uma rebelião presidiária.

Eu decidi não perder mais tempo e comecei a correr o mais depressa possível para longe daquele pandemônio. Eu precisava, ao menos procurar um lugar que oferecesse segurança para mim enquanto a rebelião estava acontecendo. Porém infelizmente, a cada lugar que eu ia, eu fui me deparando com aquela mesma cena dantesca de ódio e destruição em cada sala que ia. Todos os meus colegas de escola, até mesmo as crianças, estavam participando daquela bagunça extrema, depredando o máximo que podia cada sala do colégio público, como se não pudessem ser mais depredados.

Imediatamente, me lembrei da biblioteca e fui logo de uma vez até ela, na esperança de encontrar um porto seguro. Porém, ao chegar lá, vi um grupo de alunos destruindo-a com a maior crueldade. Todos os livros, computares e outros materiais escolares foram destroçados e incendiados como se tudo aquilo fosse parte de um crime bárbaro e hediondo. Não demorou muito tempo para que eles percebessem a minha presença e fossem atrás de mim como cães raivosos caçando um gato indefeso.

Comecei a correr como se a minha vida dependesse disso. Aqueles jovens já estavam com sangue nos olhos querendo tirar uma casquinha de mim e eu não queria esperar para tentar entender o que eles pretendiam fazer comigo.

De repente, eu percebi a presença da diretora, que assim como eu, estava correndo para preservar a sua vida, pois estava bastante claro que os alunos rebeldes estavam dispostos a fazerem as maiores atrocidades para se verem livres dela.

– Rápido! – exclamou ela. – A secretaria está aberta! Temos que fugir daqui!

Sem pensar duas vezes, segui em direção para o caminho indicado por ela, ao mesmo tempo em que percebia uma grande quantidade de alunos correndo atrás de nós dois. Eles estavam perigosamente perto de nós. Tão perto que eu até podia sentir alguns dedos tocando as minhas costas.

De repente, no exato momento em que estávamos subindo a escada, eu ouvi a diretora dar um grito desesperado. Eles haviam pegado ela. Por um instante, dei uma breve olhada para trás, no momento exato em que os alunos revoltados estavam espancando a diretora de forma atroz. Alguns deles até estavam rasgando as suas vestes uma selvageria quase satânica. Eu sabia que eu seria o próximo. Afinal de contas, eu era o seu melhor monitor e concordava plenamente com o método de ensino dela. Por causa disso eu continuei a correr.

Durante a minha fuga, eu pude perceber alguns dos alunos rebeldes me perseguindo como se tivessem sido possuídos pelo próprio diabo. Nem mesmo saindo daquela maldita escola eles desistiram da caçada.

Naquela altura do campeonato, a fadiga estava começando a tomar conta de meu corpo. No entanto, quando eu pensava que eu não ia passar daquele mesmo dia, Deus decidiu ouvir o meu suplício, pois por pura coincidência, o carro do meu pai estava passando ali perto. Eu uni o que restava de meu folego e fui até o local me reunir com meu pai. Bastou isso para perceber que os meus perseguidores desistirem da caçada.

***

Meus pais e eu olhávamos na televisão com horror o que os meus colegas estavam fazendo com a minha escola. Em questão de minutos, eles destruíram por completo aquele edifício, inclusive iniciando um incêndio em grande escala.

O mais bizarro de tudo é que enquanto o colégio estava sendo consumido pelas chamas, todos os alunos começaram a se despir de seus uniformes e ficando totalmente nus em plena luz do dia. Eles ainda jogaram os uniformes no fogo, como se tivessem se livrado de algum tipo de escravidão. Para piorar, eles colocaram música funk e começaram a celebrar como se fosse a porra do carnaval, com direito e muita droga, bebida e muita pegação. Era uma cena inacreditável de se ver, pois eles também chegaram ao ponto de queimar uma cruz muito grande em um símbolo de total rebelião e ainda por cima obstruir o trabalho da polícia e dos bombeiros, pois queriam que o colégio continuasse queimando, mesmo com a possibilidade de haver pessoas dentro do edifício.

Em uma hora dessas, eu até sinto pena por todas aquelas almas perdidas que estavam claramente dando passos largos ao abismo eterno. E também dou graças a Deus pelo simples fato de ter uma família unida e que se importa realmente comigo. Meu pai desligou a televisão e logo voltamos aos nossos hobbys, tentando esquecer os momentos de apreensão e caos que se formou hoje.

Este post tem 3 comentários

  1. Maria Neves

    Parabéns Lincoln pelo conto.

  2. Cristiano

    Gostei muito Lincoln !

  3. Andreza Vidal

    Ótimo conto, Lincoln. Adoro a forma como escreve (muito bem, por sinal) e como se expressa. Parabéns!

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