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Minha obrigação

Murilo

Como qualquer outro final de semana, o centro da cidade estava cheio de pessoas que estavam curtindo à sua maneira um momento de folga que tinham, assim como eu. Ao lado de Mikaela e do seu filho Toninho, de 8 anos, eu não podia ter desejado melhor momento como aquele.
Muitas pessoas, incluindo uma boa parte dos meus parentes, me julgam pelo simples fato de estar com aquela mulher, uma mãe solteira que passou por poucas e boas com o seu ex-marido Max, que atualmente está atrás das grades por agredi-la de forma constante. No entanto, eles nunca entendiam que era justamente por esse motivo de eu ser apaixonado por ela. A forma como ela lidou com toda essa angustia e de como ela criou o seu filho para ser um homem decente e diferente de seu pai me deixa ainda mais admirado a cada dia que eu passo ao lado dela. Além disso, mesmo com a idade batendo na porta dela, Mikaela ainda possui uma beleza estonteante para mim, o suficiente para me deixar aceso e sonhar com a possibilidade de que, um dia, eu finalmente possa ter um momento bem íntimo com a minha musa inspiradora.
Mikaela e eu escolhemos uma lanchonete para comermos alguma coisa. Foi ela que escolheu o lugar, pois achava a comida extraordinária. Quem era eu para discordar dela. Afinal de contas, eu já estava praticamente sob o controle dela, mas já não me importava mais. Nos sentamos em uma cadeira mais próxima da lanchonete, um local relativamente tranquilo. Toninho, como sempre, estava tendo dificuldades para ficar quieto em sua cadeira. Aquele menino tinha bastante energia assim como seu pai.
Mikaela chamou um homem que estava atendendo as outras mesas. Ao perceber a nossa chamada, ele veio até nós.
-Já escolheram o que vão comer? – perguntou o homem.
– Escolhemos. – respondeu Mikaela. – Eu quero um X-salada. E você, Murilo?
– Um X-egg, por favor. – respondi.
– Eu quero um X-burger. – disse Toninho.
– Perfeito. E vão querer algo para beber?
– Coca-cola 2 litros, por favor.
– Pois bem. No máximo 20 minutos vai ficar pronto.
O homem se afastou de nós com os pedidos anotados. Como sempre, Toninho ficou ainda mais ansioso do que ele já é.
-Toninho – disse eu. – Tem um parquinho do lado da lanchonete. Se quiser se divertir um pouco. Depois a gente te chama.
Toninho não pensou duas vezes e foi para o dito parquinho para se distrair um pouco.
– Olhe só para ele. – disse Mikaela. – Parece até que ele nunca presenciou uma briga violenta alguma vez.
– Vai ver que ele só quer se divertir um pouco para esquecer o que ocorreu entre você e o Max.
– Talvez seja isso mesmo. Afinal de contas, quando o Max chegava em casa naquele estado, eu podia ter certeza que teríamos uma briga das brabas.
– Por falar em Max, qual é a situação dele?
– Ele ainda está na prisão, Murilo, mas eu não sei… Eu ainda não dei nenhuma queixa contra ele.
– Por que não? – questionei ainda surpreso.
– É uma coisa muito complicada para mim. O Max e eu temos uma história juntos apesar de toda a violência que ocorre entre nós. Foi graças a ele que Toninho nasceu.
– Então é isso, não é? Você vai deixar a si mesma e o seu filho sofrerem nas mãos desse crápula com a desculpa esfarrapada de que vocês possuem uma história juntos, não é?
– Eu achei que você entenderia, Murilo. – disse Mikaela frustrada. – Olhe só para você. Você ainda é jovem. Não é um adulto já acabado com eu. Sem sombra de dúvidas você merece alguém melhor.
– E eu digo o mesmo para você, Mikaela. Eu posso ser jovem ainda, mas eu sei muito bem o que você necessita. De alguém que realmente te ame e te respeite do jeito que você merece. O meu amor por você é bem maior do que você imagina. Eu também posso perceber o quanto o seu filho é um bom menino e eu também o amo por causa disso.
– Está querendo dizer que você está disposto a assumir a paternidade do meu filho?
– Fazer o que? É o que os homens de verdade fazem.
– Você é um louco, sabia disso? – disse Mikaela. – Mas achei fofa a sua atitude.
O beijo que veio logo em seguida me deixou sem chão por completo. Eu finalmente conquistei o coração daquela musa inspiradora. Finalmente a sorte estava do meu lado agora.

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Quatro meses depois

Murilo

Passou-se enfim mais um dia estressante de trabalho. O crepúsculo que se formava no horizonte era especialmente belo. Por um instante, essa visão me acalmou um pouco. Uma visão como aquela costuma lembrar um ser humano de como a terra pode ser bela de vez em quando.
No entanto, essa sensação de paz durou pouquíssimo tempo, pois quando me aproximo da porta da minha casa, percebo-a em um estado lamentável. Quando eu entro, a sensação piorou ainda mais. A minha própria casa estava completamente bagunçada. Mikaela, que estava morando comigo, nem sequer teve a iniciativa de começar uma limpeza. Como sempre, ela estava ali sentada assistindo televisão.
-Oi, Murilo. – cumprimentou ela.
– Oi uma ova! – exclamei. – Por acaso você já olhou a condição da minha casa?!
– Pelo amor de Deus, Murilo. Eu estou com a cabeça cheia e exausta e não estou nem um pouco afim de falar nada, ok?
– O que você andou fazendo enquanto eu estive fora, hein?! Bateu perna por aí com suas amigas?! – exclamei.
– Não, seu bosta! Ela estava comigo!
De repente, percebo a presença de Max dentro da minha própria casa. Nada daquilo estava fazendo sentido. Era pra ele ter sido preso. A aparência daquele individuo era extremamente intimidadora para mim. Um homem com aquele porte podia muito bem esmagar qualquer outro como uma mera barata.
-O que significa isso, Mikaela? – questionei ela, intimidado. – Achei que você tivesse mantido a queixa.
– Eu simplesmente tirei a queixa. – respondeu ela, fria.
– Você está falando sério, Mikaela? Por acaso se esqueceu do mal que essa cara fez com você e seu filho?
– Eu não esqueci nada, está bem? –  Mikaela já estava irritada. – Mas pelo visto você não aprendeu porra nenhuma a respeito de relacionamentos, por isso decidi voltar pro meu ex.
– O que foi que você disse?! – eu fiquei perplexo com aquela revelação.
De repente, eu percebi um detalhe que, de início, não percebi quando coloquei os pés na minha casa. Percebi um cheiro diferente entre eles.
-Vocês dois fizeram…? Chega! Fora da minha casa agora! Vocês dois!
– Você não vai me obrigar a sair de lugar nenhum. Sou dona de mim mesma e posso fazer o que eu quiser!
Naquela altura do campeonato, a raiva que havia dentro de mim se aflorou de uma forma descontrolada, o suficiente para ignorar a presença de um ex-presidiário e ir em direção a Mikaela no intuito de expulsá-la da minha casa. Um grave erro, pois Max me segurou pela gola da minha camiseta e me puxou até ele, desferindo um soco forte e certeiro em meu rosto. Fui pro chão em questão de segundos.
-Agora você vai se arrepender amargamente por desrespeitar minha mulher. – disse Max, que já estava em cima de mim enquanto ainda estava tonto.
Max desferiu mais um soco. Depois disso tudo começou a ficar mais escuro. Ainda assim, podia sentir outros socos sendo desferidos contra mim, mas eu não sentia mais dor. No entanto, eu já não respirava mais direito.
E pensar que eu estava disposto a dedicar a minha vida inteira para uma mulher que jamais me amou de verdade…
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Dois meses depois

Mikaela

Já se passaram dois meses desde aquele mal entendido e as coisas estavam começando a melhorar para mim. Max voltou para os meus braços e a relação dele com o Toninho também estava melhorando.
Max e eu estávamos curtindo um clima quente no nosso quarto. Eu realmente estava sentindo falta daquilo tudo. Do jeito que o Max me tratava na cama. Na força que ele sempre usava na hora da conjunção carnal e até mesmo do jeito que ele puxava o meu cabelo.
Além disso, nesses últimos dias, eu até tinha esquecido o nome do último namorado que se importou comigo, mas isso não importava mais. O que importava mesmo era essa sensação de ser domada por um homem realmente mal.

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