Otávio
Eu estava sentado no sofá mais confortável do primeiro andar do salão de festas, vendo as últimas publicações nas redes sociais. Todas elas falando da mesma coisa: a festa que estava rolando no segundo andar nesse mesmo salão, onde os outros jovens estavam, menos eu.
Pra dizer a verdade, eu até que estaria mais animado em participar de festas assim em outras ocasiões, mas não era o caso desse dias por uma boa razão.
De repente, minha mãe surge diante de mim.
-O que está fazendo aqui? – perguntou ela, supresa.
– O que você acha?
– Vem comigo. – disse minha mãe, ao mesmo tempo em que me pega pelo braço.
Pressionado, eu segui-a a um local mais reservado, bem perto da escadaria que levava ao segundo andar da festa.
-Qual é o seu problema, Otávio? – questionou minha mãe
– O mesmo que eu já falei um milhão de vezes, mãe – disse eu. – Essa festa foi uma péssima ideia.
– Como assim uma péssima ideia. A festa está indo as mil maravilhas. Por que não aproveita e se diverte com os outros jovens no segundo andar?
– Você não entende. O principal problema dessa festa são as aniversariantes. Lola e Vírginia se odeiam com todas as forças e essa festa celebrando os 15 anos das duas certamente será um prato cheio para um completo barraco entre elas ou coisa pior, pois a grande maioria do corpo estudantil da minha escola escolheu ou o lado de uma ou o lado de outra.
De repente, minha mãe e eu percebemos a presença de Lucinda na escada. Ela estava bonita naquele vestido curto prateado.
-Você veio, Otávio. – disse ela. – Que coisa boa.
– Você veio na melhor hora. – disse minha mãe. – Como está a festa aí em cima?
– Até o momento, está tranquila. – respondeu Lucinda.
– Viu, Otávio. Você não precisa se preocupar mais. Se as duas garotas decidissem mesmo brigar, já teriam feito isso.
– Mas, mãe…
– Mas uma ova. Vai lá no segundo andar agora mesmo. Nós estamos aqui para aproveitar, não para ter dor de cabeça.
Sem muitas opções, Eu subi junto com a minha namorada ao segundo andar.
***
Como Lucinda havia dito para a minha mãe, aquela festa parecia ser a mais tranquila que eu já frequentei, mas eu não podia deixar de sentir aquele mesmo temor do surgimento do caos repentino. Até porque já estava percebendo os olhares tensos de Lola e Virginia ao longe, assim como alguns dos meus colegas de classe.
-Não acha que está ficando tenso demais? – perguntou Lucinda, que estava sentada do meu lado.
Eu escolhi ficar em silencio. Já estava cansado de falar sobre as minhas inseguranças naquele momento.
-Vamos, Tavinho – disse ela. – Relaxe um pouco. Nossos colegas de escola vão apenas ficar olhando torto um para o outro nessa festa. Não vai acontecer nada de anormal.
– Será mesmo? Eu já tinha avisado para os pais das garotas que uma festa desse tipo ia dar em merda, mas quem me escutou?
– Na certa os pais de Lola e Virginia devem ter ditos para as filhas se comportarem nessa festa, mesmo com as duas não escondendo as suas birras.
– O que você falou até que faz sentido.
– É claro que faz. O importante é aproveitarmos esse clima de paz para curtirmos um pouco.
– Tem toda razão, amor. Vamos deixar essas preocupações de lado e curtir a festa.
– Perfeito, Tavinho. Pra começar, podemos tirar essa música sem graça que está tocando.
Aquela era uma ótima ideia. Naquele momento estava tocando Feather, de Sabrina Carpenter. De fato, aquela música já estava enchendo o meu saco. Era a minha obrigação colocar algo para animar ainda mais o clima.
Fui em direção ao Jukebox. Aproveitei a ausência de grande parte dos meus colegas e coloquei algumas das minha música favorita. Desde pop brasileiro dos anos 80 e 90 até o rock raiz dos anos 70 até os anos 2000.
A minha escolha de músicas caiu como uma luva. Todos os meu colegas estavam curtindo todas elas e dançavam todos os ritmos como se não houvesse amanhã. Obviamente, Lucinda e eu entramos naquele clima. A diversão era garantida naquele momento. Eu até estava me esquecendo da tensão inicial que se formou minutos atrás.
No entanto, algo aconteceu.
Subitamente, a música parou. Vi Lola tirar a tomada do jukebox e ir em direção de Virgínia, já desferindo nela de uma vez uma bofetada em seu rosto.
– Foi você, sua mocreia! – esbravejou ela.
– Do que você está falando? – questionou Virgínia.
– Não se faça de sonsa! – exclamou Lola, ao mesmo tempo em que mostrava uma parte rasgada de seu vestido. – Eu sei que foi você que pisou no meu vestido. Olha o estrago que você fez nele.
– Nossa. Podia jurar que eu havia pisado em outra coisa. – disse Virgínia em um misto de cinismo e constrangimento. – Mas também, quem mandou você escolher um tecido tão mequetrefe?
Naquela altura, ambas as garotas já estavam prontas pra partirem pra cima uma da outra, apenas sendo impedidas pelos seus namorados.
– Droga. Era o que eu temia. – disse eu, enquanto segurava Lucinda para mais perto de mim.
– Acho melhor avisarmos aos adultos lá embaixo. – disse a minha namorada.
No entanto, um outro colega de escola surgia do primeiro andar. Era o Nicolas. Ele estava claramente agitado.
– Pessoal! Venham todos depressa! – gritou Nicolas. – Está tendo um bate-boca violento lá embaixo! Os adultos vão brigar a qualquer momento!
Aquela notícia veio como um baque para nós. Em pouquíssimos minutos, nós entendemos a real gravidade daquelas novas e fomos todos para o primeiro andar.
Ao chegarmos, todos nós vimos uma cena inusitada pelo menos para mim. De fato, todos os adultos estavam discutindo feio, quase a ponto de se estapearem por algum motivo que desconhecíamos.
De repente, percebi Lola e Vírginia olhando em direção as mães delas, que estavam em uma discussão igualmente acalorada, provocando uma a outra como se tivessem a mesma idade de suas filhas. A situação piorou quando a mãe de Lola deu um tapa na cara da mãe de Virgínia. Essa última revidou dando uma bofetada extremamente forte no rosto de sua rival, deixando-a atordoada. Ela aproveitou o momento para pegar uma garrafa de vinho e batê-la com toda a força na cabeça de sua rival, nocauteando-a logo em seguida.
Ao ver aquela cena, Lola parte pra cima da mãe de Virginia desferindo inúmeros tapas. Aquela reação foi o bastante para o circo começasse a pegar fogo de uma vez por todas e todos os presentes, adultos e jovens, começassem a se digladiar entre socos e pontapés em uma pancadaria desenfreada digna de uma briga de bar de altas proporções ou até mesmo uma pequena rebelião de presídio.
-Otávio, o que faremos agora?! – exclamou Lucinda ao meu lado.
No entanto, antes que eu pudesse falar alguma coisa, um pequeno grupo formado por meninos e meninas partiu pra cima de nós sem nenhum motivo aparente. Talvez seja pelo fato do clima de caos absoluto ter começado a afetar a mente de todos, inclusive a minha e a de Lucinda. Por causa disso, nós dois, assim como todos os convidados dessa festa, nos juntávamos a uma violenta dança de socos e bofetadas regadas a muito sangue e rostos deformados em uma violência quase que infernal.
De repente, o que já havia se tornado uma noite caótica começou a se transformar em um verdadeiro pandemônio no exato momento em que comecei a sentir um cheiro de queimado bem perto de nós. Tanto Lucinda quanto eu percebemos o que estava realmente acontecendo. A mãe de Lola estava botando fogo no salão de festas inteiro em um frenesi de ira incontrolável.
-FOGO!!!! – gritou Lucinda em um ataque de pânico. – ESTÃO BOTANDO FOGO NO SALÃO DE FESTAS!!!
-O SALÃO ESTÁ PEGANDO FOGO!!! – bradei com plenos pulmões. – PERNAS PRA QUE TE QUERO!!!!
Todos que participaram da festa e do caos absoluto começaram a correr que nem malucos em direção a saída do salão de festa que estava sendo consumida pelas chamas em uma velocidade assustadoramente rápida.
Mesmo com a cara totalmente ensanguentada, devido as pancadas que eu recebi, dava para ver o fogo em sua magnifica força destrutiva, destruir o que era pra ser um momento de festividade, mesmo com um clima de tensão no ar.
***
Uma semana se passou depois daquele infeliz incidente. Eu ainda estava abismado com a reviravolta de acontecimentos após o caos. Se fosse em circunstâncias normais, ou se estivéssemos em um outro país, sem sombra de dúvidas uma parte bastante considerável dos presentes naquela festa, inclusive Lucinda e eu, estaria atrás das grades. No entanto, como não estamos em um país normal, tudo acabou em pizza.
Graças a influência das famílias de Lola e Virginia, todos nós ficamos totalmente livres da polícia. Com o suborno certo, nenhum agente da polícia veio para encher o nosso saco e o dono do salão de festas queimado pela mãe de uma das meninas recebeu uma indenização completamente generosa.
Neste exato momento, Lucinda e eu estávamos na quadra, vendo algo que estava nos deixando ainda mais putos. Todos os nossos colegas de escolas, inclusive Lola e Virginia, estavam conversando de forma mais descontraída e mais amigável, como se nunca tivessem sido rivais.
-Amor? – Lucinda chamou a minha atenção.
– Sim? – questionei.
– Me lembre de jamais aceitar nenhum convite da escola na próxima vez?
– Não se preocupe, querida – respondi. – Eu também não vou querer participar de qualquer festa feita por esses malucos. Nunca mais.
Adorei