A noite daquele dia estava sendo a mais chuvosa de todas. Porém, todo aquele clima não diminuía o ânimo do jovem Padre Alberto. Aquele era o seu primeiro dia no confessionário e ele não podia esconder a sua empolgação. Afinal de contas, aquele cargo era mais importante em seu papel como servo de Deus.
Alberto olhou ao seu redor. Estava completamente sozinho na igreja. O jovem padre achou melhor daquela forma, pois se sentia melhor com a sua própria companhia. Sua e do próprio Deus.
O jovem padre adentra o confessionário e se prepara para receber a sua primeira ovelha perdida. Enquanto esperava, Alberto apreciava o silêncio que cercava a igreja e, principalmente, o confessionário. Ele fez logo o sinal da cruz logo de uma vez antes que se esquecesse.
De repente, Alberto percebe alguém entrando na igreja. Logo, a pessoa até então desconhecida entra direto no confessionário.
– Conte-me seus pecados, irmão. – disse Alberto, como se fosse um ritual padrão.
– Oh, Padre… – chorou o jovem pecador. – Eu pequei muito essa noite. Eu cometi um erro terrível que eu não sei se irei conseguir perdão…!
– Não se desespere, meu irmão. – disse calmamente o jovem padre. – Deus é infinito em seu perdão e misericórdia. Tudo o que você precisa fazer é confessar os seus pecados diante Dele e se arrepender de coração.
– Você não entende! – exclamou o jovem. – O crime que eu cometi é extremamente grave. Tão grave que até tenho nojo de relembrar. Eu só decidi confessá-lo porque não desejo guardar esse crime pra mim mesmo. Eu já não tenho mais nada a perder.
O padre Alberto já estava ficando nervoso com aquilo tudo. Era a primeira vez que ele ouviria a confissão de alguém, mas nunca imaginou, nem em suas expectativas mais pessimistas, que ele começaria com algo tão desesperador como naquele momento. No entanto, ele teve que permanecer calmo e mante a sua compostura. Afinal de contas, era seu papel de servo de Deus demonstrar fortaleza diante do pecado e de forças malignas.
-Vamos por partes, meu irmão. Conte-me exatamente qual é o crime que você cometeu.
A confissão de Carlos:
Eu me chamo Carlos, padre. Carlos Florentino Maia. Meu maior sonho sempre foi trabalhar com filmes. Se realmente possível, eu queria me tornar um diretor de filmes reconhecido aqui no Brasil, talvez com muito mais fama e influência do que o restos dos diretores que eu sempre considerei um mais mequetrefe que o outro. No entanto, depois de completar a minha formação no curso de cinema, a realidade bateu a minha porta com uma dureza inimaginável.
Por mais que eu mostrasse as minhas capacidades como cineasta amador, o meu talento jamais foi reconhecido da forma como merecia. Conforme o tempo ia passando, eu era obrigado a me contentar com subempregos em supermercados a beira da falência ou em escritórios cujos colegas de trabalho possuíam um comportamento mais tóxico que o Twitter e Facebook juntos. A única coisa que eu tinha de consolo e me evitava a fazer alguma loucura contra a minha própria vida era de continuar fazendo curtas metragens de qualidade questionável e publicá-las em inúmeras redes sociais, na vã esperança de que o meu talento um dia seria reconhecido.
De repente, no exato momento em que estava perdendo as esperanças de adquirir esse reconhecimento, aconteceu algo que mudou por completo a minha vida… E foi pra pior.
Um dia, recebi uma mensagem no meu Whatsapp de um contato desconhecido dizendo o seguinte:
“Eu andei vendo os seus curtas-metragens nas redes sociais. Devo admitir que tu tens potencial. O que acha de nos encontrarmos para falarmos mais de seu talento?”
Em seguida, o contato desconhecido me mandou o endereço para nos encontrarmos. Surpreendentemente, era bem perto do meu trabalho e da minha casa. Aproveitei o final de semana e me encontrei com ele. Era um homem com uma fisionomia de um típico sábio, apesar de parecer um pouco apático. Nós dois conversamos a respeito dos meus curtas-metragens e ele me disse que possuía um projeto em mente. Porém, para que esse projeto saísse realmente do papel, teríamos que nos deslocar em um local bem mais isolado, longe da cidade.
Naquele momento, eu não estava raciocinando direito nas reais consequências da minha decisão. Tudo o que passava na minha cabeça era a pura e simples ambição. Por causa dela, eu aceitei a proposta sem pensar duas vezes. Com tudo combinado, nós dois nos programamos a respeito das filmagens e fui dormir com uma alegria quase que sobrenatural. Eu finalmente teria o reconhecimento que eu tanto desejava.
No dia seguinte, eu já estava na estrada. A minha empolgação ainda estava viva em minha pessoa. O diretor estava do meu lado quieto. Estranhamente quieto. Nem mesmo quando decidi fazer algumas perguntas ao mesmo, ele nem sequer dava um pio em nenhuma hipótese, mas isso não estava me incomodando muito. Como eu disse antes, a minha mente estava focada apenas em fazer merecer o meu reconhecimento.
Finalmente chegamos ao local indicado. Era um casarão completamente decadente e caindo aos pedaços, e parcialmente isolado. No início, é claro, eu achei bastante intrigante. Uma filmagem em um local abandonado. Certamente deveria ser um filme de suspense ou de terror.
O diretor e eu entramos e assumimos os nossos postos. Era tarde e as nuvens pesadas denunciavam uma chuva iminente. Por causa disso, o diretor pediu que tudo fosse realizado antes do anoitecer.
Porém, eu percebi algo peculiar. Havia um cavalo preso dentro de uma cela. Do lado de fora, havia um guarda guardando um animal.
Contudo, eu não tinha mais nenhum tempo para pensar, pois mais gente estava surgindo. Era quatro pessoas no total. Três guardas armados até os dentes e uma jovem com mais ou menos a minha idade.
Depois do diretor pedir para acabarmos logo com aquilo, a garota começou a se despir até ficar completamente nua. Aquilo me deixou embasbacado. Logo em seguida, um dos guardas abriu a porta da cela e soltou o animal. Na hora percebi que o cavalo em questão estava com o seu membro sexual já em riste. Subitamente, senti algo em minha cabeça. Era a arma de outro dos guardas. Foi naquele momento que eu percebi a realidade dos acontecimentos e me arrependi na mesma hora por me deixar levar pelas minhas ambições mais primitivas. O que eu estava prestes a filmar era uma cena pornográfica de zoofilia.
Meu corpo todo desejava entrar em pânico. Porém, com o temor a minha vida, a única coisa que eu podia fazer era obedecer a ordens.
Naquela ocasião, eu podia imaginar muito dinheiro envolvido para fazer a cena doentia, mas você precisava imaginar a total precariedade de todo o cenário. Aquele casarão era um local completamente sujo e não adequada para uma cena de sexo, exceto as mais perturbadoras. Além disso, a ganância dos envolvidos era tão alta que eles estavam completamente despreparados para o que estava por vir. Foi justamente por isso que tudo deu errado.
No momento em que a garota já se mostrava preparada, o diretor gritou ação e um dos guardas deu um tapa na traseira do cavalo. No entanto, o animal em questão ficou tão agitado que penetrou a atriz com uma força quase que sobre-humana, resultando em um grito horrendo vindo da atriz.
Mesmo diante de uma cena tão horrenda como aquela, eu fui obrigado a continuar filmando pelo diretor. Os gritos daquela jovem ainda me assombram.
Quando o cavalo terminou, tudo o que restou daquela pobre jovem foi um corpo completamente despedaçado por dentro, o que provavelmente culminou com uma morte lenta, atroz e agoniante.
Enquanto os responsáveis por aquele curta maldito estavam distraídos com o resultado, aproveitei a ocasião e fugi deles e comecei a correr como se a minha vida dependesse da maior distância possível que tomaria daqueles monstros. Por sorte havia uma cidade não muito longe do casarão abandonado. Essa mesma onde estou agora. Percebo agora que cometi um pecado terrível em me deixar levar pela minha ambição. Foi esse remorso que me levou a essa pequena capela, na esperança de algum tipo de perdão por parte do Criador. Por isso estou aqui.
***
O padre Alberto não podia acreditar no que acabou de ouvir. Sem sombra de dúvidas, aquilo tinha sido um pecado gravíssimo que aquele jovem cometera. Em circunstância normais, ele faria o possível para manter a compostura e prosseguir com o todo o procedimento como confessor. No entanto, algo estava completamente errado naquele clima, tão errado que ele se sentiu obrigado a sair de seu confessionário apenas para perceber um trio de homens parado bem na sua frente. Um deles com uma câmera apontada para ele, filmando-o. Os outros dois homens tinham suas pistolas apontados na mesma direção.
Não deu nem tempo para Alberto reagir. Os dois homens armados deram muitos tiros em cima dele sem dó e nem misericórdia. Após executarem o padre, a dupla foi logo em direção ao confessionário e puxaram Carlos para fora, que por sua vez chorava de tanto desespero.
-Por favor… Tenham piedade… Eu não contarei o que vi, eu juro…
– Segura essa câmera. – disse o diretor, enquanto dava o instrumento para um dos executores.
Enquanto a filmagem acontecia, o diretor foi em direção a Carlos e o segura através da gola de sua camiseta.
-O problema não é tão simples quanto aparenta, garoto – disse ele. – Você viu muito mais do que devia. Quem garante que você vai mesmo levar esse segredo para o túmulo.
O diretor pega em seu bolso um canivete e expõe a lâmina de dentro dele.
– Além disso, eu havia prometido ao meu público-alvo mais uma morte. E é exatamente isso que eles terão.
O diretor crava a lâmina na jugular do jovem duas vezes e deixa o sangue jorrar nos locais perfurados. Logo depois, ele se afasta, deixando Carlos sufocar-se com o próprio sangue.
– Me diga, Alfredo – disse o diretor. – A audiência está grande para nós.
– Com toda a certeza, Xavier. – disse o executor que estava segurando a câmera.
– Que satisfação. Continue gravando então. Quero que o público da Deep Web veja esse merdinha sangrando até morrer.
Assim Alfredo fez. Ele continuou gravando o jovem moribundo, que por sua vez estava pagando com a vida o alto preço de sua impulsividade e da sua ambição.