“Rei vivia minuto a minuto. Só o momento exato que respirava. Aquilo era decisivo para sobreviver e ao mesmo tempo o incapacitava de fazer qualquer projeto positivo.”
Tornou-se uma questão de axioma que o povo de Cuba, assim como o de Venezuela atualmente, vem sofrendo bastante por causa da pobreza imposta não apenas pelo seu governo ditatorial como também pelos famigerados embargos dos EUA. E toda essa pobreza foi bem descrita no livro “O rei de Havana”, escrita pelo cubano Pedro Juan Gutiérrez.
No livro conhecemos Reinaldo, mais conhecido como Rei, que já aos treze anos passa por uma experiência traumática, pois seu irmão mais velho acaba matando a mãe deles em um ataque de fúria. Consumido pelo culpa com o que fez, o mesmo decide tirar a sua vida se atirando do prédio. Para piorar ainda mais a tragédia, sua avó, já em uma idade mais avançada, morre de desgosto com a cena que testemunhou.
Desnorteado e traumatizado com a tragédia que acabou de ocorrer, o nosso protagonista é incapaz de explicar à polícia toda a verdade, sendo assim mandado para o reformatório.
Depois de fugir desse mesmo reformatório anos depois, Rei passa a sentir na pele a pobreza que cercava toda a Havana no final dos anos 90, época em que o país passava por uma crise gravíssima, causada pelo fim da União Soviética.
Ao mesmo tempo que Rei faz de tudo para sobreviver, seja pedindo esmolas e até mesmo cometendo pequenos furtos, o mesmo passa a conhecer diversas figuras parte do submundo sujo e cruel de Cuba incluindo traficantes, prostitutas, travestis e alcoólatras.
Dentre esses personagens, a que mais se destaca é uma prostituta chamada Magdalena, melhor conhecida como Magda. Ela e Rei protagonizam várias cenas de luxúria e violência. Uma relação de amor e ódio que levará os dois a caminhos ainda mais tortuosos.
Também temos Sandra, um travesti que é obcecado por Rei por conta de seus atributos sexuais. Os dois personagens, apesar de tudo, possuem uma relação de certo companheirismo no decorrer da história, que infelizmente não dura muito por conta das circunstâncias.
Por conta desse contexto histórico da Cuba dos anos 90, o autor descreve de forma fidedigna a miséria que cercava as cidades. Isso porque o próprio escritor, Pedro Juan Gutierrez, também passou por dificuldades durante seus tempos de juventude, sendo obrigado a trabalhar em vários empregos e a se virar da melhor forma que podia. Morando em Havana atualmente, ele também escreveu livros como Trilogia suja de Havana e Animal tropical.
A narrativa de O rei de Havana, apesar de direta e sem rodeios, é crua e explicita. Gutierrez não mede as palavras para escrever a sua história, dando descrições, no mínimo, indelicadas, especialmente nas cenas libidinosas.
Com um final bizarro que beira ao macabro, O rei de Havana é uma história que foi feita com o objetivo não apenas de chocar o leitor, mas também como uma forma de conscientizá-lo sobre os reais problemas de Cuba. Recomendável para aqueles que decidirem explorar o real lado desse país.